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FLUMIFOGO, A FUSÃO DO SÉCULO

Pela simples leitura do título o leitor pode estar imaginando tratar-se de mais um frankenstein na atual linguagem coloquial praticada no Brasil, ou mesmo algum tipo novo de abreviatura dos internautas. Nada disso. Trata-se de uma proposta de fusão entre dois dos maiores clubes de futebol do Brasil e do Rio de Janeiro: o Fluminense e o Botafogo.

Antes que os saudosos João Saldanha e Nelson Rodrigues sacudam seus túmulos e de ser linchado por tricolores e alvinegros mais exaltados, gostaria de lembrar que tanto um como outro já foram produtos de fusão no século passado. O Fluminense originou o Flamengo (1911) e o Botafogo Futebol fundiu-se com o Clube de Regatas (1942). Portanto até aí, nenhuma novidade. Pelo contrário, estar-se-ia criando um clube com o maior patrimônio de conquistas de Campeonatos Cariocas (48), dois títulos de campeão brasileiro, sem falar nos torneios nacionais conquistados que eram considerados, à época, autênticos campeonatos brasileiros, como é o caso do Rio-São Paulo e Roberto Gomes Pedrosa. Nasceria também um clube com uma imensa torcida, podendo fazer frente quase a "um" Vasco da Gama, por exemplo.

Mas, por que razão levantar-se esta proposta que seguramente causará reações apaixonadas e uma polêmica futebolística muito além do Rio de Janeiro? A resposta é muito simples e pragmática. Em São Paulo, cidade mais rica do Brasil, com quase 12 milhões de habitantes, estão sediados apenas 3 clubes: São Paulo, Corinthians e Palmeiras. No Rio de Janeiro, que é apenas a terceira economia do país e com a metade de habitantes de São Paulo, estão quatro clubes: Flamengo, Vasco, Fluminense e Botafogo. Não pode dar certo. O futebol moderno está intimamente ligado aos grandes grupos econômicos e inafastavelmente ao marketing esportivo. Assim, o modelo brasileiro de gestão não resiste a uma matemática diferente da rivalidade existente na maioria das capitais brasileiras, cingida a dois e a, no máximo, três clubes de futebol. Vide os exemplos de Porto Alegre (InterXGrêmio), Belo Horizonte (CruzeiroXAtlético), Curitiba (CoritibaXAtlético, mais recentemente o Paraná, produto da fusão entre o Colorado e o Pinheiros em 1989), Florianópolis (AvaíXFiguerense), Goiânia (GoiásXVila), Salvador (BahiaXVitória), Recife (SportXNáutico, com o Santa Cruz na série D). Tais exemplos provam que, quase sempre predominam os clubes de grandes torcidas que, obviamente, atraem os grandes patrocinadores, em detrimento dos demais.

No Brasil, para ficar apenas nos clubes tradicionais, são pelo menos 12! Os quatro do Rio, Capital, os quatro do Estado de São Paulo, os dois de Belo Horizonte e os dois de Porto Alegre. Haja torcida e recursos para tantos clubes! Fosse a metade deles a predominar, certamente estes clubes seriam mais fortes financeiramente e dificilmente veríamos a imigração de jovens talentos para o futebol do exterior. No berço do futebol, Inglaterra, são apenas quatro ou cinco clubes dando as cartas, na Espanha, menos ainda, dois, na Itália, três ou quatro e, mesmo na Argentina, são apenas cinco.

Voltando ao Rio, é preciso regredir um pouco no tempo para melhor entender o que se passa na terra do samba. Com o advento do Estádio do Maracanã, em 1950, o futebol carioca que, na condição de Capital da República, à época, já era referência, acabou por impor uma hegemonia e influência nacional que perdurou até o final do século passado. Esta foi, sem dúvida, a grande razão e a mola propulsora para que os quatro grandes do Rio se mantivessem, ou melhor dizendo, sobrevivessem até agora, com torcedores espalhados por todo o País.

Entretanto, constata-se, a partir da última década, principalmente a partir da era de pontos corridos no campeonato brasileiro, um franco declínio dos clubes cariocas, não apenas se comparados aos grandes de São Paulo, que se estruturaram, mas em relação a vários outros clubes do Brasil. Os melhores profissionais do Rio de Janeiro migraram para outras capitais, especialmente a paulista.

No futebol moderno não se vive apenas de história e de glamour. Trata-se de um negócio, um grande negócio, e não há mais espaço para amadores. Amor à camisa de Félix, Pinheiro, Assis e Rivellino, pelo Flu e de Garrincha, Nilton Santos, Jairzinho e Paulo Cesar pelo Bota, são coisas do passado.

A decadência é visível: o Flamengo, depois de 17 anos de jejum, caminha para a sua sexta conquista no atual campeonato brasileiro, muito mais em função da incompetência dos paulistas Palmeiras e São Paulo, do que por seus próprios méritos. O Vasco da Gama comemora a sua saída da Série B e a dupla Botafogo/Fluminense, entra ano sai ano, tenta permanecer na Série A do campeonato brasileiro. Lembrando que o Fluminense estava na Terceira Divisão em 1999 e o Botafogo na Segunda em 2003. É muito pouco para o futebol carioca.

A fusão Fluminense-Botafogo criaria um equilíbrio bem maior entre as forças futebolísticas do Rio de Janeiro, não apenas entre quantitativo de torcidas mas, principalmente, em patrocínios e sustentabilidade. Laranjeiras e Botafogo são bairros vizinhos. Tanto as sedes das Ruas Álvaro Chaves e General Severiano são históricas e podem continuar a abrigar sócios e treinos do Flumifogo. O Estádio Olímpico (Engenhão) seria melhor utilizado e o uniforme tricolor passaria a ostentar o símbolo da estrela solitária. Utopia? Que nada, isto é pragmatismo puro e estou certo que alvinegros e tricolores não agüentam mais tanto sofrimento. O campeonato carioca passaria a ter mais clássicos de milhões e ser um laboratório bem mais eficaz para enfrentar o campeonato brasileiro cada vez mais profissional. Nasceria não apenas um grande clube, mas um gigante: o Flumifogo de Futebol e Regatas!

Ass. Délio Cardoso (um botafoguense sofredor!)

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